terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Indiferença

Ela levantou mais cansada do que havia adormecido, não se preocupou em desligar o despertador do celular, permaneceu imóvel enquanto ouvia as frases da música que tanto mexia com seu íntimo. Esperou pelas lágrimas que deveriam vir, porque sabia que o cheiro que sentia no travesseiro era do perfume dele, que impregnou tudo naquela casa como um vírus, e a cada dia percebia que tudo ali estava doente. Porque tudo ao redor fazia parte dela e apesar de ter a mesma aparência e as mesmas cores, ela sabia que tudo estava se decompondo. Como ela mesma. Em cima daquela cama, esperando por ele, sabendo que não viria. Porque ainda podia ver a imagem dele na soleira da porta, andando sem olhar para trás e ainda podia ouvir seus gritos de desespero, que ecoavam como trovoadas e num dia normal a fariam ter dor de cabeça. Ela piscou mais uma vez e sentiu que as lágrimas não queriam cair. Seus olhos estavam secos demais. E por acidente descobriu que seu coração estava com batimentos compassados, e a dor se esvaíra. Ela continuava imóvel, porque a consciência de tudo preenchia cada espaço vazio. Percebeu que nunca mais seria a mesma, porque ele havia partido, mas de algum modo, a levara junto com ele. Sem se dar conta do que fazia, conseguiu se levantar novamente e ao erguer os olhos para a janela viu o dia lindo que estava lá fora. E respirar fundo já não foi tão doloroso, mesmo com o cheiro dele ainda presente, porque a presença dele sempre estaria ali, grudada em sua carne como uma tatuagem, e querendo ou não, ela teria que se habituar a isso. Mesmo tendo que sofrer novamente. Mas sabia que não iria sofrer, porque seu coração não estava mais no mesmo lugar e o que ela sentia agora era só indiferença.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Verme

Estou cansada desse nosso parasitismo. Nossa relação pútrida e abominável já me fez sofrer demais. Foi bonita enquanto meu masoquismo a permitiu existir. Saia de mim agora, seu verme! Não ouse implantar mais uma gota desse seu veneno letal no meu organismo, muito menos tentar me convencer de que estou errada com essa sua estúpida retórica. Vá embora com esse seu narcisismo exacerbado e nunca mais, nunca mais olhe nos meus olhos novamente. Eu vou assassinar essa cria imunda que você plantou em mim. Esse amor odioso que me consome. Que mata minhas esperanças e faz meu coração parar de bater aos poucos. Essa é a última vez que morrerei por ti. Juro, sobre esta terra amaldiçoada, que nunca mais sangrarei por você ou qualquer outro. Me deixe em paz agora e nem pense em olhar para trás. Saí daquele abismo escuro e minha letargia se foi junto com a nostálgica certeza de que havia te perdido. Perdi ganhando. Vou abrir espaço no meu peito confuso e deixar o caminho livre para aquele que realmente deseja entrar. E, ai dele se fizer as mesmas coisas que você fez. Esse meu riso de escárnio estava preso há muito tempo. E agora que ele saiu não sei porque acaba de se transformar em soluços...

obs: Me desculpem por isso. Outro dia explico esse meu estado de espírito.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Abismo

Me perdi em meio as nossas controvérsias. Sua falta de ação e timidez me preencheram de tal modo que a incerteza falou mais alto. Lamento não poder voltar atrás para redesenhar nossa vida repleta de sentimentalismo e dúvidas. Sei que se você pudesse faria o mesmo, está escrito no seu olhar toda vez que um silêncio nos preenche depois de uma piada com palavras que se fossem ditas sem o humor, seriam uma bela declaração de amor. Talvez se não fôssemos tão medrosos e nos encarássemos ao invés de olhar para o chão como quem espera uma resposta que nunca virá, estaríamos mais felizes agora com nossos lábios unidos e seu calor penetrando em minha pele mais intenso do que quando nossas mãos estão coladas umas as outras. Como se não bastasse as barreiras invisíveis existentes entre nós, há ainda ela que sonha com você e o ama tão loucamente como eu. Ou mais. Seria bem mais fácil se não a víssemos morrer toda vez que ela me vê com você ou se eu não morresse toda vez que os olhos dela brilham e ela espera, com o coração acelerado, uma declaração sua. E nós duas vamos ressuscitando e mesmo sem querer, sobrevivendo. E você vai partindo, mesmo sem perceber, dois corações que já não são tão puros, corrompidos pelo calculismo e pela frieza que faz parte do mundo em que vivemos. A medida que o tempo vai passando, vamos ficando mais gastos pela poeira tóxica que sai de nossas almas e pela velhice precoce, nosso abismo vai se alargando devagar e vamos percebendo que a distância entre nós já é enorme. Tentei ultrapassá-la, usando minha paixão ardente e a pouca coragem que me resta, só que, mais uma vez, acho que morri tentando.
E dessa vez, eu não sobrevivi.

(...)

“Sempre senti, a vida inteira, que as páginas que ia deixando à minha passagem eram parte de mim. As pessoas normais trazem filhos ao mundo, nós romancistas, trazemos livros. Estamos condenados a deixar a vida neles, embora quase nunca nos agradeçam por isso. Estamos condenados a morrer em suas páginas e, às vezes, a permitir que elas acabem nos tirando a vida.”

O jogo do Anjo - Carlos Ruiz Záfon

sábado, 10 de outubro de 2009

Idiota

Flutuei por alguns dias. Vivi intensamente alguns instantes e morri muitas vezes, em outros. Sorri e chorei. Mas agora, olhando as minhas costas como quem olha para a eternidade, tudo parece tão distante. Talvez eu não devesse ter acreditado tanto que tudo é possível e que a felicidade não é uma mentira. Hoje, quando olho para você com ela, percebo o quanto fui idiota. Não sei se me iludi por me perder no seu olhar, ficar com as pernas bambas quando você me sorria ou por ter acreditado, enquanto conversávamos, que eu poderia ser correspondida enquanto ouvia a melodia grave e sincera que é a sua voz. Chorei enquanto voltava para casa e deixei que percebessem o quanto me doía ver você escapulindo das minhas mãos. Me machuquei mais dessa vez, porque acreditei que desfaleceria em seus braços enquanto o trovejar silencioso de seu coração me fizesse dormir. Você me fez perder o controle e minha ferida aberta me faz, enquanto desabafo com palavras que nunca serão o suficiente para descrever o que você representa para mim, chorar. Choro por ter sido idiota, por me deixar abater por algo que veio tão rápido e avassalador, que só poderia ser uma mentira. Mas não foi. E meu coração agora está tão despedaçado, que às vezes me pergunto porque continua batendo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sei lá.

Hoje eu quero gritar. Meus olhos estão ardendo e sinto vontade de correr. Balanço a perna freneticamente olhando para os lados como se estivesse sendo seguida. Penso besteira com meus botões e aperto o livro em minhas mãos como uma arma peculiar. Minha postura desleixada com a maior parte do corpo pra fora da cadeira chama um pouco a atenção de quem passa, mordo lábio inferior e sinto gosto de sangue. Hoje eu só quero ficar no meu canto. Dormir. Pensar. Ler. Ouvir Los Hermanos. Dançar Beyonce escondido. Ou chorar um pouquinho ouvindo Cazuza. Sei lá. Hoje eu quero a solidão dos dias ensolarados e sons de sorrisos distantes. Hoje, só hoje, não vou pensar em beijá-lo. Hoje eu quero descobrir um pouco mais de mim.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Meus fragmentos

Sinto você como gotas d'água que vão deslizando e indo embora devagar. Tenho medo de cansar de vê-lo evaporar aos poucos e secar as minhas mãos. Mas sei que vou fazê-lo e tenho medo de que você o faça. E também sei que o fará.
A minha vida toda tive medo de me sentir sozinha, vou me perdendo aos poucos num abismo escuro. Mas no fundo sei que estou só.
Sinto pedaços de mim caírem aos poucos e vou me fragmentando a medida que o tempo passa e as pessoas vão partindo e levado meus cacos, ao mesmo tempo em que novas pessoas aparecem e eu vou me modificando e aprendendo coisas com cada uma delas. Se fecho os olhos a vida não parece tão sombria.
Tenho vontade de segurar suas mãos e não soltá-las. De guiá-lo por todos os caminhos tortuosos dessa estrada, mas sei que não durará para sempre. Porque talvez isso seja um engano e, no fim, só uma dessas recordações que guardamos em uma gaveta escura e empoeirada que quase nunca abrimos, ou talvez isso ainda vire piada ao encontro de dois antigos amigos que vão se encontrar por acaso e tomar um rápido café ou então isso não termine.
Eu só queria te dizer que agora, enquanto escrevo esta carta com os olhos um pouco marejados e com o coração carregado de desespero, isso tudo é real.
Porque você me ajudou como ser humano, mesmo que isso tudo seja um grande engano ou uma verdadeira paixão, seus olhos castanhos e sérios bateram fundo em mim e inspecionaram minha alma, me fizeram crescer e regredir, sonhar e acordar, e, principalmente, sentir sensações novas.
Uma dor vai crescendo no meu peito ao setí-lo se afastar, um buraco que vai aumentando aos poucos porque você faz parte de mim, e hoje eu choro. Mas um dia vou me sentir mais forte para poder olhar em seus olhos sérios e dizer:
"Obrigada por existir e me ajudar a construir parte de mim."

terça-feira, 14 de julho de 2009

E se?

E se eu falasse que tenho inveja de um monte de gente? Que não tenho medo do escuro, mas prefiro luzes acesas? Que sou hiponcondríaca? Que tenho instintos assassinos toda vez que vejo aquelas meninas estúpidas usando aquelas roupas que me intimidam falando de festas em que não fui convidada e andando de mãos dadas com meninos que muitas vezes sonhei? Que não gosto Michael Jakson? Que eu apóio o presidente e tenho orgulho de ser brasileira? Que gosto de Bruno e Marrone? Que vivo com medo de estar sendo filmada quando converso comigo mesma no espelho e fico fazendo poses para uma câmara imaginária? Que tenho pesamentos sórdidos? Que não olho para os lados a maioria das vezes quando vou atravessar a rua e que quase todo dia por um triz não sou atropelada? Que não gosto de certos professores? Que prefiro teatro a cinema? Que destesto Paulo Coelho? Que escuto música de emo, pagode e axé? Que gaguejo quando converso com um cara forte sem camisa? Que tenho trauma de escadas e que odeio lugares altos? Que sou ciumenta e egoísta? Que tenho fobia de elevador? Que acho meus pés horrorosos e minha bunda grande demais? Que tenho vergonha de um monte de coisas que deveria me orgulhar? Que vivo dizendo que não gosto de criança pequena, mas fico toda boba quando vejo um bebezinho, mesmo que tenha meleca no nariz?

Que...bem, e se eu falasse que me chamo Kênia, tenho quatorze anos, estou completamente apaixonada e não sei realmente se quero fazer medicina? E se eu falasse que essa sou eu?!

domingo, 12 de julho de 2009

A verdade?

A verdade? A verdade é que nem sei se eu te amo e que você tem razão em deixar tudo como está. A verdade é que nunca fui o melhor para você e acho que nunca serei. Não te amo completamente. Nem tenho muito certeza se amanhã o continuarei amando. Sinto tanto por tudo isso. Não deveria ter mentido dizendo que sinto o que nunca cheguei perto de sentir por você. Lamento por todos os olhares de interesse que lhe lancei como se o quisesse para sempre, lamento por todas as indiretas que mandei como uma pessoa que não aguenta mais calar, lamento por todas as vezes que o fiz dizer declarações, lamento por dizer o que fingia sentir a todos. A verdade é que talvez nem mesmo você me ame. E nossas feridas vão se curar e nem vão deixar cicratizes pois não passam de arranhões porque o que sentimos não é profundo. Mas são feridas e feridas doem. Por isso vou permitir que você me culpe e deixarei você fingir que deu tudo de si e eu desvalorizei. Porque você é mais sentimental, porque seu corte doerá mais.
A verdade é que talvez eu nem saiba amar

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Minha imatura consciêcia

Sentei perto da janela e fiquei olhando para rua. Senti o vento frio da manhã bater em meu rosto e levei as mãos para dentro do casaco, a minha frente um professor falava em um tom suficientemente entediante, por mais interessante que o assunto pudesse ser, fiquei imaginando o final do livro que estava em cima da minha cama desarrumada com um marcador de um livro do Victor Hugo. Minha cabeça latejava por um motivo que desconheço e por negligência, ignoro. Meus dedos frios pareciam pedras de gelo e minha vida exageradamente sem graça. Era só mais um dia normal, normalmente chato e simplesmente cansativo. Não me importei com as pessoas andando apressadas na rua ou com minha falta de liberdade. Naquele momento só queria ser uma Bella de um Edward ou uma aluna de Hogwarts ou, quem sabe, ter um dragão estimação chamado Saphira. O meu tédio era crônico e cheguei a ver-me divagando sobre assuntos diversos e fantasiosos enquanto o professor continuava a falar sobre algo que naquele instante pareceu-me completamente desconhecido e sem importância, censurei-me imediatamente e inclinei meu corpo em uma posição que pensei ser o de uma pessoa interessada e séria e comecei a prestar atenção ao que o professor dizia. Tentei prestar atenção ao que ele dizia porque algo em minha imatura consciência me dizia que aquelas palavras viriam a ser importantes e talvez eu devesse deixar de ser insistentemente displicente e quem sabe até, um dia, madura.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quis fazer um poema

Quis fazer um poema
Um poema para pessoas tristes
Um poema para toda dor que existe
Que falasse de coisas belas
Um poema sem sordidez
Que aplacasse a dor
Um poema que servisse de acalanto.

Eu só queria fazer um poema para
secar meu pranto.

Só ele me anestesia...

Hoje me senti tão triste.
Mas ele estava lá. Com seu jeito tímido que eu conseguia perceber mais que ninguém, me olhava com seus olhos castanhos escuros incrivelmente sérios. Ele ficou parado colocando as mãos grandes na testa e olhando para o caderno enquanto enfiava os dedos longos nos cabelos com seu olhar concentrado na folha de papel e com uma caneta entre os dedos.
Me sentei na cadeira tentando não fazer barulho e ele virou seu olhar em minha direção no que pareceu ser menos de alguns segundos, mas que fizeram meu coração dar pulos e minha barriga dar ondinhas.
Coloquei o material na mesa e comecei a puxar os livros. Pude perceber que ele me fitava, lancei meu olhar em sua direção enquanto murmurava um "bom dia" e me virava novamente para mochila.
-Você está triste hoje.-Observou ele. Eu não me virei para fitá-lo, dei uma resposta qualquer e puxei um assunto sem importância. Ele deu um sorriso e uma resposta, depois olhou para frente na direção do professor e começou a olhar para mim e murmurar algo baixo, como se fosse um segredo. Me virei imediatamente em sua direção e comecei a ouvir o que ele tinha a dizer.
Ele começou a falar algo, enquanto eu olhava seus olhos que são estranhamente sérios por um motivo que talvez eu não saiba, por um instante o vi fitar meus lábios e os molhei involuntariamente e pensava secretamente se ele tinha vontade de me beijar. Mas seus olhos voltaram aos meus. Dei um sorriso a respeito do que ele me contara e despejei uma desculpa qualquer para segurar sua mão e sentir sua pele sob minha.
Fiquei murmurando alguma coisa sem importância enquanto segurava suas mãos quando o professor falou uma coisa que era importante e nós parávamos para ouví-lo. Não sei se ele relutou tanto em desgrudar nossas mãos como eu.
Depois de um tempo inventei uma coisa qualquer e me lancei sobre ele de braços abertos. Ele não ficou um pouco mais tímido que o normal e deu um risinho nervoso como era seu hábito.
Não hoje.
Ele me abriu os braços e lançou seus olhos sérios em direção aos meus lábios, o que me fazia perguntar internamente mais uma vez se tinha vontade de me beijar. Eu o abracei e senti seu cheiro de shampoo e roupa limpa e tive uma vontade súbita de fechar os olhos e adormecer.
Queria que ele me abraçasse para sempre e talvez até me beijasse de leve, só para eu guardar o gosto de seus lábios quando ele não estivesse mais aqui...
...mais só o abraço foi suficiente para anestesiar minha tristeza.
Quem me dera se ele anestesiasse minha solidão!
Ai, ai...

domingo, 28 de junho de 2009

Meu amor

Meu amor partiu.
Partiu sem deixar recado. Sem mandar beijo. Sem mandar abraço.
Sem aviso prévio, sem recomendações, sem beijo de despedida, sem adeus.

Meu amor partiu.
E não me deu a chance de sentir saudades do sabor dos seus lábios, pois não os beijei...
Lábios já frios por agora.
Não me deu a chance de sentir o calor do corpo que nunca abracei.
Calor que já não existe mais.

Meu amor partiu.
E acho que se esqueceu das declarações que nunca saíram dos meus lábios, se esqueceu das caricias que nunca me fez e dos encontros que nunca tivemos.

Meu amor partiu.
Partiu e não me viu chorar em um corredor frio com a cabeça apoiada nas mãos enquanto médicos passavam apressados de uma lado para o outro e às minhas costas uma parede fria me fazia tremer.
Uma parede onde atrás jazia sobre uma mesa de aço um corpo inerte e gélido.

Meu amor partiu e talvez não tenha me amado.
Ele partiu e me deixou arrependida das palavras que nunca dissera, por pudor, por medo ou por orgulho.
Ele partiu sem ouvir minhas desculpas e explicações.
Meu amor partiu e talvez não tenha me amado, partiu sem saber que era amado, talvez antes de partir ele tenha me odiado...
Nunca saberei...
Meu amor partiu e me deixou cheia de dúvidas e talvez ele nunca saiba que vivia para amá-lo e que sobrevivo para esperá-lo sabendo que ele ele não voltará...

Meu amor partiu e me deixou sem vida, sem sentido, sem luz...
...ele levou meu coração para onde quer que tenha ido.

Solidão


Às vezes me sinto só.

Um vazio maior, que não posso suportar, me invade e me faz padecer na ecuridão.

Não vejo saída no fim do túnel e aproximo de mim a morte,

enquanto caminho lentamente com os pés descalços sobre

os cacos de vidro que me fazem sangrar.

Apesar da dor, não choro.

A dor faz parte de mim.

A solidão me consola.

E me abrigo na cálida surdez do silêncio que só existe em meu mundo particular.

sábado, 27 de junho de 2009

Os incompreendidos


Sentou-se no fundo do ônibus. Colocou sua mochila no colo e começou a abrir um dos bolsos, a procura de um livro, quando o viu. Sua figura tinha os ombros levemente caídos e mostravam uma certa preocupação, ele tinha um exemplar surrado de "Um Apanhador no Campo de Centeio" entre as mãos. Ele sentava-se em um banco da praça com os cabelos curtos e castanhos soltos, seus lábios vermelhos como um morango estavam entreabertos e seu rosto parecia cansado, mas foram os olhos que chamaram a atenção dela, seus olhos exageradamente tristes e sem foco. Ficou admirada ao ver a dor refletida em seu olhar, teve vontade de descer do ônibus e se sentar ao lado dele, ela só sentaria. Não diria uma palavra. Sentaria a seu lado e o fitaria por alguns instantes. Uma onda de um sentimento que não pôde distinguir a invadiu ao vê-lo erguer a cabeça lentamente em sua direção. Seus olhos negros se moveram em milésimos de segundos, que mais pareceram uma eternidade e ele a fitou. Seus olhos incrivelmente nostálgicos se grudaram nos dela e ambos sentiram um arrepio.
Ele não desviou o olhar. Seu olhar penetrante a atingiu e ela ficou estática. Não precisaram de palavras. Eles se compreenderam com um simples olhar. O ônibus começou a andar e ela se despediu silenciosamente, ele continuou parado, como se quisesse entender o que estava acontecendo. Ela baixou o olhar para o livro que pegara na mochila, o coração reconfortado por saber que em algum lugar do mundo existia alguém que a compreendia.


Ela se assustou ao ver o ônibus parando novamente e seu coração acelerou quando ela olhou para cima e o viu, entrando no ônibus. Ele se sentou ao lado dela e sorriu ao ver o exemplar de "Um Apanhador no Campo de Centeio" nas mão dela, com um aceno de cabeça indicou o dele.


Eles se olharam e desejaram que aquele momento jamais acabasse.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Conto de terror

Ela olha para o espelho e suspira com pesar. Suas olheiras refletem o cansaço de viver e seu rosto jovem reflete a falta de anos vividos. Permanece calada padecendo sob sua dor enquanto caminha para seu quarto e se joga na cama cobrindo a cabeça.
Ela fecha os olhos com força e permanece calada enquanto percebe algo se movendo em sua direção e sussurrando seu nome. Ela sabia de quem era aquela voz, mas não se virou para olhar. Não se moveu. A voz a chamava e ela fingia não ouvir. Ela começou a arfar enquanto uma mão gélida e pálida como lua se movia abaixando a coberta que cobria seu rosto apavorado.
Ela não abriu os olhos.
Sentiu de súbito um hálito gelado e podre no pé de seu ouvido e manteve intacta sua fé de que era só um sonho enquanto ouvia um barulho rouco e sentia algo molhando seu rosto.
Com um pânico crescente percebeu que o som rouco saíra dela e que o que molhava seu rosto eram suas próprias lágrimas, ela começava a ficar cada vez mais apavorada quando ouviu a voz sussurrar em seu ouvido:
-Vou ser breve. Não tenha medo...- A menina abriu os olhos devagar e por todo o quarteirão reverberou-se um grito de pânico e dor saiu de sua garganta. No dia seguinte todos comentavam o ocorrido.
-O coração dela simplesmente parou de bater.
-Dizem que morreu de pânico...

Continua...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lágrimas


Fazia frio lá fora.
Olhei para janela com um ar de pesar no coração. Palavras tristes inundaram meus ouvidos e me fizeram chorar. Me encolhi no sofá, dizendo a mim mesma que era por causa do frio. Olhei para a janela com a vista embaçada e tentei manter uma centelha de esperança acesa enquanto sabia que já estava tudo perdido. Por que enxergo tanta escuridão depois dessas luzes? Tentei manter intacto o meu fingimento de vida perfeita enquanto sentia uma nostalgia avassaladora invadir meu peito tomando o lugar da felicidade.

Felicidade?

Tentei afastar os maus pensamentos que insistiam em me dominar em meio a esse mundo doente e mantive intacta a ilusão de que tudo era perfeito enquanto vozes interiores me pediam para parar. Tapei os ouvidos com descrença e fechei os olhos tentando interromper o fluxo de lágrimas que insistiam em cair, mas não consegui.
A nostalgia me dominou e se afinou, por mais que eu tentasse ignorá-la, se estendeu como um punhal e me feriu no fundo do peito.
Abri os olhos lentamente, como que acordando de um sonho, e vi a sala a meu redor. Permaneci na posição em que estava e ouvi a janela bater trazendo um frio sobrenatural para dentro da sala. Olhei ao redor com meus olhos nostálgicos e displicentes, mas nada vi, a não ser um mundo feito de asfalto sem coração e nem piedade.
Tentei chorar para sentir pena de mim mesma, mas não consegui.
Talvez meu coração tenha se apoderado de toda frieza e se tornado vazio.
Talvez ele tenha congelado, mas talvez eu sobreviva.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Será?

Tenho medo do futuro. Essa incerteza me assusta. Não saber o que vai acontecer, se tudo que fiz foi em vão, se ainda sentirei as emoções que não tive, se ainda verei os lugares que um dia sonhei visitar...
...se acordarei amanhã.
Será que sim? Será que viverei a vida como planejei?
Estudar, passar no vestibular, conseguir emprego, viajar, namorar, casar, ter filhos, morrer...
Será que a ordem vai ser alterada? Ou será que vou pular etapas?
Perguntas.

Mesmo que me esforce, as repostas não vêm. E viriam? Uma coisa que minha avó disse nunca fez tanto sentido: "O futuro a Deus pertence!".
Parei para pensar na vida e parece que passei por ela sem perceber. Já estamos em Junho e me parece que não fiz nada. Parece que o tempo vai passar e vou continuar assim.
Será mesmo? Será que vou continuar parada vendo tudo acontecer? Que não vou chutar o balde e fazer o que deveria ser feito?
Mas o que deveria ser feito?
Ajudar o meio ambiente?
Estudar mais?
Lutar pela paz universal?
Declarar minha paixão?

Vou me esforçar e fazer o que posso, talvez até um pouco mais.
Vou descobrir os resultados e escrevê-los aqui.

E você? Quando vai perceber que o relógio não pára? Quando vai começar a fazer o que devia?
Quando?

Tic-tac... Tic-tac...

Cansei!!!

Sabe, me cansei de não dizer o que penso.
O que penso sobre tudo...
...sobre essa vaidade...
...sobre esse consumismo...
...sobre os sentimentos...
...sobre os meus problemas...
...cansei de não dizer o que penso sobre mim.
Quero falar o que não disse, mesmo que seja fútil, banal, idiota, piegas...

Quero me expor,
e preciso de todos vocês.

Comentem o que digo, mesmo que seja para me chamar de idiota ou concordar plenamente, mesmo que seja para me fazer perguntas ou mesmo para dizer que leu.
Reclame, proteste, critique... expresse-se!

Você será bem-vindo!