sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Café

A mão está fria. Segurando o café com os dedos trêmulos. O cigarro está acabando. A fumaça vai direto para o cabelo. A tosse é seca, a roupa é suja. Suja de vodka. Cheiro de álcool, alguém chamando no portão. Quem? Era o gato, o gato com os olhos amarelos e o pêlo negro.
O nariz sangrou, a ferrugem não enjoava. O sangue chegou aos lábios. Nem ralo, nem muito vermelho. O espelho partido. Uma rachadura enorme. Nenhum vestígio de lágrimas. Nenhum vestígio de dúvidas, tristezas, nada. O céu estava adivinhando a maldição.
Cadê?
Deve estar na bolsa, com os cigarros. Todos os cigarros intactos. Não, não está na bolsa. Deve estar debaixo do tapete, com as conversas sussurradas. As conversas sobre a mudança, a separação, a doença. Não, não está debaixo do tapete. Procure mais um pouco... Não, está nem aqui, nem ali. Deve ter se mudado para um texto que faça sentido. Ou para casa de alguém que tenha sentimentos.