sábado, 9 de março de 2013

Hoje

Hoje as estrelas sorriram pra mim quando eu fechei os olhos e pedi lá do fundo, bem do fundo.
Da minha janela eu vejo tijolos e chão grosso. Eu vejo crianças barrigudas e mulheres gordas.
Essa tarde um quê de esperança entrou debaixo da minha porta. E eu pulei e pulei de medo.
Mas acho que no final tudo se ajeita e a gente deixa de perder tempo.
Aquela moça que trabalha na máquina de xerox sorriu pra mim hoje e me perguntou se eu tinha visto o céu e tão lindo que ele tava.
Na vida a gente sempre tem moças do xerox pra lembrar que o céu tá bonito
e sempre tem uma janela pra ver o chão grosso e a criança barriguda.

quinta-feira, 7 de março de 2013

poderia

Você poderia falar da guerra. 
Poderia falar das mães que perderam os filhos.
Poderia falar da Yoni Sanchez, do Hugo Chavez, do Chorão.
Do facebook, da morte súbita, dos coliformes fecais na água de poço.
Do governo brasileiro, do governo americano.
De Goethe, de Pessoa, dos Anjos.
Do cachorro que queria chegar do outro da rua,
da tangente transversal entre duas retas paralelas num mesmo plano,
da escassez de amor, de ódio.
Dos rompimentos, dos dias banais, das cruzadas.
Do tempo, das provas, dos amores.
Da padaria da esquina que não tem iogurte,
de gente que bebe cachaça, de gente que usa crack.
Das pessoas que você ama, das que você odeia,
das que você não sabe que existem.
Mas você só sabe falar de você mesmo. 
Porque acha que a sua dor é a maior dor 
do mundo. 

Mas não é.