terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Indiferença

Ela levantou mais cansada do que havia adormecido, não se preocupou em desligar o despertador do celular, permaneceu imóvel enquanto ouvia as frases da música que tanto mexia com seu íntimo. Esperou pelas lágrimas que deveriam vir, porque sabia que o cheiro que sentia no travesseiro era do perfume dele, que impregnou tudo naquela casa como um vírus, e a cada dia percebia que tudo ali estava doente. Porque tudo ao redor fazia parte dela e apesar de ter a mesma aparência e as mesmas cores, ela sabia que tudo estava se decompondo. Como ela mesma. Em cima daquela cama, esperando por ele, sabendo que não viria. Porque ainda podia ver a imagem dele na soleira da porta, andando sem olhar para trás e ainda podia ouvir seus gritos de desespero, que ecoavam como trovoadas e num dia normal a fariam ter dor de cabeça. Ela piscou mais uma vez e sentiu que as lágrimas não queriam cair. Seus olhos estavam secos demais. E por acidente descobriu que seu coração estava com batimentos compassados, e a dor se esvaíra. Ela continuava imóvel, porque a consciência de tudo preenchia cada espaço vazio. Percebeu que nunca mais seria a mesma, porque ele havia partido, mas de algum modo, a levara junto com ele. Sem se dar conta do que fazia, conseguiu se levantar novamente e ao erguer os olhos para a janela viu o dia lindo que estava lá fora. E respirar fundo já não foi tão doloroso, mesmo com o cheiro dele ainda presente, porque a presença dele sempre estaria ali, grudada em sua carne como uma tatuagem, e querendo ou não, ela teria que se habituar a isso. Mesmo tendo que sofrer novamente. Mas sabia que não iria sofrer, porque seu coração não estava mais no mesmo lugar e o que ela sentia agora era só indiferença.