quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

#Robert

Você vai ter mania de porta fechada e pescoço. Eu tenho mania de cotovelo e Dolores.
"É um nome que diz muito sem falar quase nada."
Eu vou entender seu defeito de silêncio e você, o meu de solidão.
Seu cheiro de cigarro, sua voz rouca, sua barba na minha bochecha.
E quando as palavras saírem dolorosamente pisadas, eu vou olhar para o chão e sentir o salgado cair por terra.
Não nos ocuparemos com as vãs desculpas, a verdade vai rasgar. Mesmo que de dentro para fora, mesmo que nos destruindo...

"Robert, quem vai morrer primeiro?"

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobre estar perdida

Teve vontade de colocar uma bomba na boca. Mastigá-la com todo seu ódio e sentir os fios arranhando as entranhas antes de explodir. Olharia o almoço escorrendo pelas paredes, os pedaços da sua carne fraca e riria da própria má sorte com a voz esganiçada de uma vendida.
Era aquele sentimento de não estar bem consigo mesma, aquela vontade repentina de arrancar os sonhos com as unhas mal feitas. Abrir um buraco com faca de serra. E ver seu corpo se arrastando pelo chão em um geotropismo positivo de dar pena.Tirar a pele com pinça e zombar da sua "arte" burguesa que só olha para o próprio umbigo. Seu intelectualismo duvidoso, seu romance de conto erótico, suas amizades fedorentas. Arrancá-los com um canivete enferrujado e se perguntar o porquê de viver. Ser escalpelada pelos pecados. Provar seu próprio veneno.
Morrer.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Black Swan



Era doce.
E suave. Era como a ponta da alma se arrastando pelo chão, era o corpo agitado que não queria se levantar e tremia, e tremia. E eram os suspiros e a vontade de agarrar tudo com as mãos e espremer entre os dentes aquela carne quente. E rodava entre os túneis com os punhos batendo nas paredes e se pudesse escalá-las... ah! Se pudesse escalá-las! E era um riso virando uivo e um grito se calando. Rasgando o que havia de dentro para fora. A implosão violenta na descoberta do não-ser. Era o ato de se fechar por reflexo, mas se abrindo cada vez mais. Eram os cabelos se agitando e pés querendo sair do chão cada vez mais próximo. As palavras de consolo penetrando mais fundo e as narinas abertas sem sugar ar nenhum.  E as luzes já sumiam nos túneis e os dedos ficaram parados. Então o desespero de se perceber mudado sem nenhum amparo, então a vontade de fugir com os pés acorrentados. A decepção de não poder voar, a revolta pela corrupção e vergonha de si mesmo.O sangue seco, a vontade de deixar tudo em ordem quando nem se sabe mais a noção do tempo, quando não se tem mais freios, muito menos motivação. Vieram as imagens e o querer de agarrar tudo com as unhas fracas, o querer de perfurar e ver o sangue saindo pelos poros, o querer de ter tudo de volta quando tudo em que se sustentara era uma montanha de nada. Veio a certeza de se ter aprendido algo, a vaga lembrança de um sorriso.
Depois, a escuridão, o silêncio.
A solidão. E o nada


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Questão de tempo

Arreganhe a boca e mostre o sorriso amarelo.
Aperte as entranhas com a força do álcool e arregace as mangas sujas.
Deixe que a ideia de embriaguez lhe entorpeça os sentidos e desdenhe da própria miséria.
Você não tem motivos para continuar de pé, se toda a sua dignidade se vendeu.
Você não tem motivos para olhar no espelho, se já vomitou na própria imagem.
Na verdade, você tem muito pouco. E para o nada é só uma questão de tempo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Fumaça

E ela só conseguia pensar na xícara perto da cama. A fumaça que saía da boca dele e o gato arranhando a porta. Ela quer café, mas não consegue se mexer direito. Será que ele não percebe que a mata também? Era tão estranho abrir os olhos, ver aquele raio de sol iluminando aquele corpo caído, virado para janela. Aquela expressão nervosa de quem não quer olhar nos olhos. Ela precisava mesmo de café. E tinha aquela música baixa, tocando no fundo do quarto. Era quase uma lembrança melosa da dança. E o cinzeiro tá cheio, não te avisei para não fumar aqui? E aquele seu silêncio que doía... o arrependimento dele cortava os sentidos dela. Mas ela quase pediu perdão quando viu o número de cigarros no cinzeiro. E se sentar foi tão dificil, ela não queria chorar, jura que não. Mas ele ainda ficou soltando fumaça, fumaça. Talvez ela tenha perdido o bom senso no corredor.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Boa

E talvez eu tenha esquecido do quanto eu gosto da minha cama, meu espaço, meu ar, minha vida.
Mas se é por um bom motivo de que vai importar a revolta agora?
Eu vou chegar até lá e sorrir, sorrir, sorrir. Seja uma boa menina.
E aqui dentro eu tenho um quarto que não é meu, um cheiro que não é meu, uma vida que não é minha.
Eu perdi a vergonha a caminho da praça, vendi a felicidade para comprar batatas e o sorriso frio foi ensaiado meticulosamente. Inferno!
"Não repita essa palavra de novo, isso não é coisa de menina decente!"
E olha só aquela saudade subindo as escadas. Eu acho que se pintar a unha de rosa ele vai pensar que mudei. Mas eu mudei, de verdade.
-Ei, não fujo mais de casa e não misturo sorvete com batata frita.
Mas todo mundo mudou. Todo mundo já toma vodka. E todo mundo sai. Menos eu.
Se eu quebrar essa mesa o castigo vai ser muito grande? Eu tenho tanta vontade de sumir, sumir, sumir. Só para não ter o trabalho de encarar tudo de novo. A vida de novo. Como me cansa!
E eu quero ser uma boa menina, menina boa não dá. É vulgar. De vulgar já me basta o short curto. E o batom. E o cabelo solto dessa forma.
"Que decote é esse?"
Por que será que eu não uso isso na minha cidade? É medo? Confessa, vagabunda, fala do medo do nome na praça!
Boa, boa, mas boa para quem? Ah, a resposta já vem! Não vou ser ingrata, ingratidão é uma coisa terrível!
Por que não me faço entender? E se me entenderem o que acontece? Aí perde a graça!
Para com isso! Não pense assim! Sorria, sorria, sorria.
Talvez você tenha talento para a felicidade.
É, talvez.