segunda-feira, 21 de novembro de 2016

você já sentiu vergonha do que se tornou?





eu já.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

escovinha

tem uma mancha aqui que ninguém mais vê, só eu. e com essa escovinha pequena eu fico esfregando e esfregando, tentando tirar tudo, tentando remover cada pedacinho dessa mancha. mas ela nunca sai. às vezes eu tenho a impressão de que ela está quase no fim, quase saindo daqui, mas então ela reaparece, rápida ou lentamente, ela volta. e eu fico em dúvida, pensando se um dia ela realmente esteve a ponto de desaparecer. eu odeio essa mancha e às vezes eu desejo que ela morra e leve tudo que representa pra mim embora. se ela permanece, sei que revivo tudo de novo e volto pra esse ciclo de quem não tem certeza de novo. mas eu estou com raiva, eu sinto tanta raiva que eu sou capaz de matar essa mancha com água sanitária, eu vejo tudo nela. será que eu consegui ver meu reflexo nessa mancha? ou foi ilusão? se a mancha partir, eu sei que vou perder somente sua presença física, mas as lembranças, os momentos que passei esfregando e encarando vão continuar aqui. olha, mancha, só parta se puder carregar tudo com você, inclusive se uma parte minha estiver nesse tudo. é isso que eu sou. uma parte da mancha, eu acho. ou uma parte minha é a mancha? ou eu a mancha inteira? mancha, eu te odeio e desejo que você morra. por favor, pare de existir por que eu não aguento mais esse sufocamento e essa dor que você me causa. tenho a impressão de que você, mancha, conversa comigo e é você que me faz sofrer.
eu não aguento mais mancha, não quero abrir os olhos amanhã e saber que um dia você esteve aqui. se você não for embora, eu vou.

sábado, 14 de maio de 2016

voltei

voltei, mas antes que não tivesse voltado.
depois de anos no fundo eu ainda sou a mesma. a fase adulta só prejudica as vezes quem nós queremos ser.
e com a mesma trilha sonora, depois de seis anos (eu acho), ainda sou a mesma.
não é assustador pensar que mesmo adulto ainda somos absurdamente inseguros? e sozinhos.
queria excluir isso aqui, passar um corretivo nessas mágoas que não conseguia falar com ninguém, ainda porque achava que ter diário na internet é coisa de adolescente. e eu hoje sou mulher feita. não sou? estudada, comprometida, sai sozinha, volta sozinha, pode beber, dirigir, falar palavrão, rir alto, falar de sexo e esperar as críticas. pessoa livre. livre?

pensei em mudar também, talvez um blog com outro endereço me representasse mais. eu senti saudade daqui, essa é a verdade. mas acho que no final me acostumei a imaginar que quem escrevia não era eu, mas uma parte perdida, adormecida. mentira.

não sei o que eu quero dizer, mas sei que agora me convenci de que foi bom ter voltado. quem seríamos nós sem nós mesmos, não é? se eu admitir, talvez, minhas partes, eu fique menos desintegrada.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

a gente só demora pra perceber o que machuca mais.




terça-feira, 19 de novembro de 2013

Alice

Alice tinha perdido a fé. Depois de ficar olhando por horas o mesmo branco intocável ela percebeu que nada existia entre ela e a mistura daquelas cores todas que resultavam no tudo. Esse tudo a cobria e envolvia numa mar de nada.
Ela tinha dez anos.
Não existe porque não existe e ponto final. É simples assim mesmo que difícil de entender.
É triste perder a fé com dez anos. Se tornar tão sem nada que não vê fundo. Tentar se acabar três vezes e desistir antes de tentar em todas. Ela sabe que de todas as coisas que existem no mundo só pode acreditar em si mesma mesmo que isso não signifique muito.
Olha, a gente precisa conversar sobre as paisagens que você vê e é preciso desenhar um deserto um muro e aquele monte de areia sem nada, nada. Só você e a areia e aquele maldito muro que dói pra atravessar.
É isso que passa na cabeça dela durante casamentos aniversários sobremesas domingos a vida.
Eu acho que de todas essas coisas a menos chata é a curiosidade de ver o que tem atrás do muro. Esses dias eu pensei que talvez nem eu exista, a vida é essa merda em que a gente se encontra sem ter vontade de entrar, mas que é obrigado a sentir o cheiro.
- Olha, vai pra casa e descansa um pouco. - Disse a doutora Andressa - A vida tem desses altos e baixos. Amanhã o céu abre e você percebe que é muito interessante ficar nesse lado do muro.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

deve ser coisa de filha única

às vezes eu queria saber descrever umas coisas. só pra todo mundo saber como foi bonito e o que eu senti. mas se o sentimento é bom e me anima e me faz tremer de rir eu não consigo dividir com ninguém.
é egoísmo.
até meu egoísmo eu divido. mas uma risada não.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Diana

Ficou um tempão parada comendo um pão doce na porta antes de entrar. Não estou nervosa, não estou nervosa. Limpou a mão na calça. Depois entrou. Eu queria marcar um... Qual seu nome? Diana. Nome completo, por favor. Diana exitou. Respirou fundo. A moça que tinha os olhos claros e era muito bonita segurou as mãos de Diana, olha meu amor, meu nome é Alice. Mas não é de verdade, você não precisa falar seu nome de verdade aqui. Diana achou aquilo ótimo. Disse que seu nome era Brigitte Bardot e sentou na sala de espera. Não roeu as unhas como a outra garota da fila, ficou olhando para o chão o tempo todo. Ah, queria tanto poder passar o resto da vida olhando o chão, sem saber que olhava pra dentro dela mesma. Ela sabia que precisava se livrar daquilo, era feminista, menor de idade e tinha muitos sonhos. A única merda naquilo tudo era todo mundo achar que ela era forte, que podia encarar tudo de peito aberto. Não se achava forte pra encarar muitas coisas, mas encarou. Quando a mãe se matou ela cuidou de tudo, quando o pai entrou em depressão ela ajudou em tudo. Mas sua felicidade ia minando aos poucos e às vezes se achava oca. Mas de uma coisa ela tinha certeza: aquilo não era capaz de encarar. Além do que, não queria o mesmo fim das outras. Sim, a felicidade é possível e ela existe na minha independência. Posso me arrepender, mas não vou arriscar tudo pra dar continuidade a essa coisa. Sim, Diana era forte. Respirou fundo e olhou pra porta. E o namorado, cadê? Por mais que não confessasse, uma parte dela queria ser romântica e queria atenção. Mas isso não existe aqui, existe? Eu vou pra casa estudar e ter certeza de garantir um futuro pra mim. Nunca dá certo esperar as pessoas, elas nunca têm boa vontade suficiente. Nunca. E elas te decepcionam. Tentou não pensar na mãe. Meu namorado não precisa saber que eu vim, ninguém precisa. Brigitte Bardot, o médico chamou. Ninguém riu, todo mundo estava muito preocupado com os próprios problemas. Assim que entrou no consultório, o médico pediu pra que ela se sentasse, olhou nos olhos da menina. Estão ficando cada vez mais jovens... Mas não queria saber da história de ninguém. A responsabilidade do que acontecer aqui é sua, se você sangrar até a morte, não vou poder fazer nada. Cadê seu acompanhante? Não é recomendável... Diana cortou a conversa, olha, médico (não chamava médico de doutor, doutor é quem faz doutorado, médico é médico), eu vou pagar em dinheiro. Não se preocupe com isso, uma amiga vem me buscar depois. Mentira, tudo mentira. Sim, Diana pagaria à vista, mas não, nenhuma amiga iria buscá-la. Não tinha amigas que apoiassem aquele tipo de coisa... O médico só anotou algumas coisas no papel e depois a encaminhou pra marcar tudo. A balconista, Alice, foi muito amável. Diana saiu aliviada. Depois de amanhã estaria tudo certo, estaria livre daquilo. Mas no dia combinado da hora combinada, em cima da mesa Diana sangrou até a morte. Ah, sim, tinha tantos sonhos... Mas são os imprevistos da vida. Acontece.