quinta-feira, 26 de maio de 2011

Black Swan



Era doce.
E suave. Era como a ponta da alma se arrastando pelo chão, era o corpo agitado que não queria se levantar e tremia, e tremia. E eram os suspiros e a vontade de agarrar tudo com as mãos e espremer entre os dentes aquela carne quente. E rodava entre os túneis com os punhos batendo nas paredes e se pudesse escalá-las... ah! Se pudesse escalá-las! E era um riso virando uivo e um grito se calando. Rasgando o que havia de dentro para fora. A implosão violenta na descoberta do não-ser. Era o ato de se fechar por reflexo, mas se abrindo cada vez mais. Eram os cabelos se agitando e pés querendo sair do chão cada vez mais próximo. As palavras de consolo penetrando mais fundo e as narinas abertas sem sugar ar nenhum.  E as luzes já sumiam nos túneis e os dedos ficaram parados. Então o desespero de se perceber mudado sem nenhum amparo, então a vontade de fugir com os pés acorrentados. A decepção de não poder voar, a revolta pela corrupção e vergonha de si mesmo.O sangue seco, a vontade de deixar tudo em ordem quando nem se sabe mais a noção do tempo, quando não se tem mais freios, muito menos motivação. Vieram as imagens e o querer de agarrar tudo com as unhas fracas, o querer de perfurar e ver o sangue saindo pelos poros, o querer de ter tudo de volta quando tudo em que se sustentara era uma montanha de nada. Veio a certeza de se ter aprendido algo, a vaga lembrança de um sorriso.
Depois, a escuridão, o silêncio.
A solidão. E o nada