terça-feira, 31 de julho de 2012

Asa quebrada

Aquele pé maltrapilho. Aquela vontade de cama. Aquele desejo de tempo.Esses dias eu imaginei que se talvez eu desejasse com muita força, muita vontade, talvez eu conseguisse. Não que a questão seja só desejar, mas talvez se eu tivesse pensamento positivo a minha energia melhorasse. Sou dessas que acreditam em energia positiva, acreditar em energia positiva remete à acreditar na força do pensamento, eu acho. Eu vivo dizendo que não vou mais aguentar, eu vivo dizendo que vou me matar no meio do caminho, que vou morrer acidentada, adoentada, assassinada. Às vezes eu até me imaginava com um maluco agarrado ao meu pescoço, eu não ia gritar, nem reclamar de nada, ia ficar paradinha esperando o "final do serviço". Ou talvez eu berrasse, batesse, fugisse, me agarrasse à vida com força.
É que eu não tenho me agarrado com força a nada ultimamente, desistir no meio do caminho tem sido o dilema. É que são tantas pedras no meio do caminho que algumas são maiores do que eu. Ou maiores do que a minha vontade. Não vou dizer que faltam braços pra me ajudar a atravessar, não vou dizer que não tenho forças. Simplesmente porque estaria mentindo. Eu queria ter tudo aquilo que os vencedores têm, eu queria ter tudo aquilo que as pessoas legais têm. Mas não tem nada lá no fundo de mim, só desespero. Eu tenho o dilema de que se você está desesperado e sem forças e sem rumo, o melhor é sentar e chorar. Você senta, chora, faz birra, cara feia. Espera ajuda. Mas isso quando não se tem mais saída, quando não se tem mais aonde ir. E há pessoas pra ajudar. Sempre há. Não é? Mesmo que a ajuda não ajude. É que eu sou infantil. Não sei me virar sozinha, sou do tipo que fui protegida porque na rua tem estuprador e andar descalça mata. Mas aí de repente eu comecei a andar na rua com os estupradores a solta e andar descalça e não morrer. Pois é. Ando me perguntando que se eu pisar numa poça eu vou morrer com o xixi de rato que tem lá. Todo mundo sabe que poças têm xixi de rato.
Mas por outro lado eu fui do tipo que passou uma boa parte sozinha. Todo mundo falava baixinho, uma chorava num canto, o outro batia as portas. E todo mundo me chamava de "coitadinha". Talvez sejam essas lembranças que me afetem tanto. Antigamente eu não racionalizava muito isso, eu não tentava entender nada. Mas agora que ando racionalizando e entendo, ou interpreto tudo a meu favor, eu percebo que só houve um período em que tudo foi certo, um período em que havia tanto xixi de rato, estupradores e proibição de andar descalça. Porque depois ninguém via.
Eu poderia estar surpresa com minha passividade, permissividade, diante da compreensão de tudo isso. Mas eu sempre fui passiva, permissiva, não sei se por preguiça de levantar a voz ou por medo. Acho que por medo. Eu tenho medo de tudo que voa, tudo, passarinho, borboleta, gente livre. Porque eu tenho as asas quebradas. É por isso que não tenho vontade de pular as pedras, de querer com vontade, porque as minhas asas já estavam quebradas antes de eu nascer. Eu poderia até atravessar as pedras, eu poderia até desejar com muita força, eu poderia até conseguir. Mas eu tenho certeza que isso não leva a nada, eu não vejo nada além de hoje. Eu imagino, eu monto, mas não vejo sentido. Se você não vê não tem por que tentar. Não é?

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