terça-feira, 19 de novembro de 2013

Alice

Alice tinha perdido a fé. Depois de ficar olhando por horas o mesmo branco intocável ela percebeu que nada existia entre ela e a mistura daquelas cores todas que resultavam no tudo. Esse tudo a cobria e envolvia numa mar de nada.
Ela tinha dez anos.
Não existe porque não existe e ponto final. É simples assim mesmo que difícil de entender.
É triste perder a fé com dez anos. Se tornar tão sem nada que não vê fundo. Tentar se acabar três vezes e desistir antes de tentar em todas. Ela sabe que de todas as coisas que existem no mundo só pode acreditar em si mesma mesmo que isso não signifique muito.
Olha, a gente precisa conversar sobre as paisagens que você vê e é preciso desenhar um deserto um muro e aquele monte de areia sem nada, nada. Só você e a areia e aquele maldito muro que dói pra atravessar.
É isso que passa na cabeça dela durante casamentos aniversários sobremesas domingos a vida.
Eu acho que de todas essas coisas a menos chata é a curiosidade de ver o que tem atrás do muro. Esses dias eu pensei que talvez nem eu exista, a vida é essa merda em que a gente se encontra sem ter vontade de entrar, mas que é obrigado a sentir o cheiro.
- Olha, vai pra casa e descansa um pouco. - Disse a doutora Andressa - A vida tem desses altos e baixos. Amanhã o céu abre e você percebe que é muito interessante ficar nesse lado do muro.

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