sábado, 24 de abril de 2010
15
Quando abriu o olho viu só sua mãe acenando. "Já está na hora." Era sábado, mas tinha curso. E quando tomou banho, foi normal. Quando se arrumou, foi normal. E foi pro curso. E assistiu a aula e encontrou as amigas e teve esperança, mas ninguém falou nada. Ela se desanimou. Sorriu. Fingiu. Mentiu. Tudo como sempre. E foi embora. A chuva vinha vindo, molhando seu cabelo, sua roupa, sua alma, arrastando os vestígios de quem espera algo. Ela se escondeu, foi pro shopping e ficou sentada, esperando. Nada. Tentou mais uma vez. Ligou de novo. Nada. E balançou as pernas. "Eles não são obrigados a lembrar" Sacudiu as mãos, esperando, esperando... Nada. Foi embora. Ficou o tempo todo olhando pra janela do ônibus, pras gotas de chuva. Parou de chover e ela só reparou na descida do ônibus. Chegou, entrou no orkut. Nada. Nenhum recado. Deitou na cama, fechou os olhos e chorou baixinho. Nem é importante. São só seus 15 anos.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Minutos
Eu gosto de ficar olhando os carros que vem na direção contrária. Meus olhos começam a lacrimejar. A ponte cada vez mais iluminada me deixa extasiada. Aquelas luzes parecem comprimidos pra felicidade. Me sinto quase feliz. Depois de respirar com força, sinto o ar entrando e quase me sinto viva outra vez. Meus dedos se machucam nos muros das casas. O sangue é um pouco ralo e posso sentir o cheiro de culpa em cada gota. Depois de correr o dia todo, sempre atrasada, perdendo a hora por distração, tenho meus minutos de paz e faço o maior esforço pra não voltar tão cedo pra casa. Eu fico parada olhando para o rio e o meu tênis sujo fica se sacudindo de um lado para o outro. Acho que meus pés ficaram dormentes, mas estou tão livre do cansaço que continuo caminhando lentamente, tentando aproveitar cada minuto. Dentro de mim uma chama pequena ainda está acesa e eu fico tentando mantê-la ali por mais um tempo. Lá no fundo dos meus sapatos começo a sentir um frio conhecido subindo as minhas pernas. Desacelero mais os passos. Em vão. Olho para trás, perdida. Mas a estrada fria me puxa, o asfalto enfia agulhas no meu coração. E meus olhos perdem o brilho, sem ter certeza, continuo sendo arrastada. E deixo pra trás os minutos só meus. O que me consola é saber que amanhã vou ter tudo de novo.
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